quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Raquel Arada com John Falk

Pausa para um Coffebreak

Workshop com Sofia Neuparth e Graça Passos

Workshop com Sofia Neuparth e Graça Passos

Workshop com Sofia Neuparth e Graça Passos

Workshop com Sofia Neuparth e Graça Passos

Workshop com Sofia Neuparth e Graça Passos

Workshop com Sofia Neuparth e Graça Passos


Workshop com Sofia Neuparth e Graça Passos

Workshop com Sofia Neuparth e Graça Passos

Workshop com Sofia Neuparth e Graça Passos

Sofia Neuparth a iniciar o Workshop

Sessão de abertura

Raquel Santos Arada (coordenadora) na sessão de abertura

Paula Figueiredo - Comentário ao debate de Fernando Hernandez

Debate/palestra de Fernando Hernandez, 13 de Dezembro de 2011, 15 horas


Num encontro quase perfeito entre audiência e Fernando Hernández importa referir, em traços gerais, as questões pertinentes, as sábias experiências de trabalho e o diálogo feliz que se travou na sessão de debate. Perante a ausência de identidade dos intervenientes (também pertinente por provar a permeabilidade dos temas sentida pela maioria dos presentes) gerou-se um ambiente de cruzamento de relatos donde emergiram temas cruciais ao questionamento da mediação cultural.
Da palestra proferida no período da manhã por Fernando Hernández ficou a figura do CRIADOR DE CIRCUNSTÂNCIAS, que conduz subtilmente o outro a encontrar a sua própria criatividade. Sem que seja impositivo, esta figura transgride os cânones académicos, deixando de ser um transmissor de conhecimentos, que fala e parece gostar de se ouvir, para ser o educador – aquele que conduz o outro no seu próprio caminho da descoberta criativa. Será esta a chave para mudar a escola?[1] – Ainda sem resposta, o orador mostrou o ENCONTRO num compromisso de dois indivíduos, no qual algo acontece de importante, repercutindo-se na estrutura do indivíduo que é conduzido pelo CRIADOR DE CIRCUNSTÂNCIAS. O ENCONTRO é o ponto nevrálgico da pesquisa entre alunos e professor.
O relato de uma experiência revela um projeto desenvolvido pelo orador e os seus alunos de Belas Artes, no qual o tema de pesquisa foi simplesmente a ausência, ou seja o silêncio, provocado por um questionamento do professor aos alunos sobre o que haveriam de pesquisar. Indo ao encontro da curiosidade dos seus alunos, conseguiu motivá-los e envolvê-los num projeto criativo multifacetado.
Deste modo, Fernando Hernández apresentou três modos de pesquisa:
1.     Pesquisa Criativa.
2.     Pesquisa Artística.
3.     Pesquisa Social e Humana (mais tarde dirá ser a fundamental das artes, a que permite ver o que a científica não permite).
Do questionamento sobre a pesquisa surgem também modos de relação do artista com a escola. No primeiro, o artista necessita da escola para construir o seu projeto, no segundo o projeto constrói-se na escola, no terceiro a escola quer desenvolver um projeto com a colaboração de um artista numa perda de autoria artística, rara de se ver. Por fim, o artista e a escola podem juntos desenvolver o projeto.

O museu pode ser o lugar para fazer projetos. E esse lugar é o ponto de ENCONTRO. Das escolas fica uma discussão em aberto sobre se serão ou não comunidades. Umas são, outras não. Quando há uma hierarquia perdem-se as responsabilidades partilhadas, que para o orador devem existir numa comunidade. Mas o que é uma comunidade? – Se questionássemos as escolas não chegaríamos a um consenso.

Perante a troca de algumas experiências de uma audiência bem conhecedora da realidade escolar (ou comunidade escolar também ponto de questionamento), o orador refere as muitas brechas deixadas pelo sistema político que nos dão oportunidades criativas de trabalhos numa resposta à falta de recurso e falta de condições de trabalho.
E, se em Barcelona há artistas que fazem projetos na escola, há também uma falha na prática formativa dos mesmos.
Fica então a noção de que a arte é um conjunto de RELATOS, dando o exemplo de Miró, que muito mudou o seu modo de relatar. Para o RELATO da cultura a biografia é essencial: como os indivíduos relacionam o seu relato com a sua biografia.

Nos museus o que se oferece é a informação: “E o que tem a ver a informação comigo?” – diz Fernando Hernández. Nem no museu nem na escola há reflexão, só informação.
Em Portugal, é referido por alguém da audiência, que existem comunidades em algumas escolas, muito pelo trabalho individualizado de alguns professores e nos museus, acrescentou outra pessoa[2]  que também há uma clara mudança nos Serviços Educativos, na qual se convoca as oportunidades de ENCONTRO, num breve momento que pode durar só uma hora, mas que provoca uma mudança importante, referindo o facto de ter uma equipa de CRIADORES DE CIRCUNSTÂNCIA.
Daqui também surge a palavra como armadilha, como algo no qual  estamos enredados  - “não há melhor prática que uma boa teoria”, como salienta o orador.

Por fim, refira-se a imaginação pedagógica (o anjo perdido!), agora ausente das escolas. Para Fernando Hernández, o melhor material didático é o que se constrói com as crianças, não são os manuais escolares. Devemos ativar a imaginação pedagógica, não podemos viver sem utopia.
Quanto aos adultos, não têm tempo nem paciência, ao contrário dos idosos que facilmente partilham as suas histórias de vida, tal como refere num exemplo passado na Catalunha, no qual um grupo de idosos se predispôs a filmar os seus relatos. Da Austrália refere um Centro sem acervo que todos os anos faz uma exposição sobre a história de vida dos habitantes e que assim consegue reunir um grande arquivo de histórias de vida.

Do debate saem reforçadas as ideias anteriormente apresentadas na palestra, assentes no indivíduo participativo com o seu RELATO num diálogo analítico e criativo, que problematiza e que questiona o que no ENCONTRO com o outro emerge, numa mudança constitutiva do seu modo de relatar.

Fernando Hernández deixou-nos também três interrogações (apresentadas como pano de fundo ao debate):
·      Como podemos contribuir para que o museu seja um espaço performativo?
·      Como fazer com que as exposições possibilitem estados de encontro?
·      Como possibilitar e estar atento às “rotas” de leitura dos visualizadores emancipadores?

Em tom de conclusão não conclusiva ficamos com estes questionamentos num trabalho com o público cada vez mais exigente.

Paula Figueiredo



[1] A pergunta veio de Porto Alegre, Brasil.
[2] Susana Gomes da Silva, CAM/FCG.
 

O Espaço de Leitura da Conferência


Margarida Melo - Comentário à palestra de Fernando Hernandez


“Transitar entre el museo existente y el museo (im)posible en tiempos de espectadores emancipados.” – Fernando Hernández

Através da apresentação de alguns projectos educativos de colaboração entre escolas e museus, nos quais esteve envolvido nos últimos anos, Fernando Hernández convidou-nos a (re)visitar algumas ideias-chave que fundamentam a sua abordagem pedagógica.

Desde logo enunciados no título da sua palestra, surgem dois conceitos que lhe interessou prontamente clarificar. A ideia de ‘museu (im)possível’, enquanto espaço de possibilidade para práticas museais de ‘encontro’; práticas que abram caminho a novas e diferentes narrativas, que espelhem essas circunstâncias de diálogo(s). Bem como, a ideia de ‘espectadores emancipados’, espectadores portadores de saberes e experiências que não podem ficar à porta do museu.

Num primeiro momento da sua palestra, Hernández apresentou-nos o pensamento de vários autores que têm contribuído para a sua reflexão em torno das práticas educativas e posturas pedagógicas, nas escolas e também nos museus. Entre eles, destaco a ideia, de Maite Laurrari, de arte enquanto expressão de relações. Enquanto criação de linguagens que nos permitem a construção do ‘encontro’.

Papel essencial na construção desse encontro museal, está reservado aos educadores/mediadores, cujo principal desafio é aquilo a que Hernández chama de ‘criação de circunstâncias’. Na explicitação desta genial ideia de educador-criador-de-circunstâncias, Hernández socorre-se da análise Freiriana da concepção ‘bancária da educação’, na qual o ‘educador aparece como seu indiscutível agente, como seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é “encher” os educandos dos conteúdos de sua narração.’ (Freire, 2005: 65)

Assim, ao diálogo comunicativo, de transmissão aditiva, há que preferir o diálogo analítico, aquele que atende aos caminhos de leitura dos que participam de uma conversa cultural. Diálogo que resulte (e simultaneamente decorra) numa narração não fragmentada, não linear e contextualizada.

Aliás, Hernández questiona-se se a expressão ‘mediadores culturais’ não traz, em si, uma ideia colonizadora e hegemónica, contrária à visão, também ela Freiriana, de emancipação dos públicos. Será o mediador cultural o ‘educador que opta e prescreve a sua opção’, enquanto os públicos se limitam a ser ‘os educandos, os que seguem a prescrição’ (Freire, 2005: 68)? Ou, só o é se for esse o paradigma pedagógico em que opera?

No entanto, na minha opinião, a noção de ‘espectadores emancipados’, careceu de um debate mais alargado e crítico. Serão as crianças, alvo preferencial dos projectos de trabalho propostos por Hernández, espectadores verdadeiramente emancipados? Acredito que a metodologia que Fernando Hernández nos propõe poderá contribuir, substancialmente, para a criação de futuros públicos adultos emancipados. Mas, como criar projectos de trabalho pedagógicos, verdadeiramente transformativos, dirigidos aos adultos de hoje? Aos tais que não têm tempo?

Termino com uma das frases de Fernando Hernández que mais ressoou em mim: ‘se um encontro não nos ensina nada sobre nós próprios, então, é um encontro perdido’. Este não foi seguramente um encontro perdido.

Por Margarida Melo


Freire, Paulo (1968/2005), Pedagogia do Oprimido, Paz e Terra: São Paulo: 65
Larrauri, Maite (2000), El deseo según Deleuze, Editorial Tándem

Ana Leitão - Comentário à palestra de Fernando Hernandez

“O tempo, esse  grande escultor” (Marguerite Yourcenar)
Comentário à palestra de Fernando Hernandez, por Ana Leitão
“A arte expressa relações, o nosso trabalho é permitir que relações  tenham lugar”- Fernando Hernandez alertava assim para os riscos de uma mediação desenvolvida como “colonização”.
O mediador, “trabalhador da cultura” deverá então ser um “criador de circunstâncias”, alguém disposto a criar “disponibilidade de encontro”, atendendo à arte como “estado de encontro”.
Deverá substituir o diálogo “comunicativo”com o público por um diálogo”analítico”, que tenha em conta as grelhas de leitura de quem participa numa visita.
Defensor de “projectos de trabalho”, mais do que visitas ou ateliês, Hernandez  apontou vários eixos norteadores desses projectos :
-  favorecer o desejo de aprender
- favorecer uma cultura “de escuta”, de diálogo
- fomentar a problematização, o questionamento e a meta reflexão
- proporcionar a construção de relações e associações
- permitir documentar (não como uma acumulação de informação)
e narrar
O trabalho educativo entendido como trabalho performativo e a afirmação da prática pedagógica como devendo estar indissoluvelmente associada à construção de identidade remataram esta verdadeira aula interactiva.
Mas foi uma resposta a uma questão levantada pela audiência relativamente às qualidades de um mediador, que fez vibrar as cordas da minha paixão pelo trabalho em serviços educativos:
Hernandez, num jeito indizível, respondeu:
- capacidade de escutar
- pôr-se no lugar do outro -empatia
- paciência
E foi sobretudo esta última qualidade, justificada com a constatação de que “há que dar tempo ao tempo”, que me deixou a ruminar por dentro…
“  10 anos depois uma pessoa compreendeu algo que eu havia dito”
A problematização foi num crescendo:
“o trabalho de mediação e seus resultados são dificilmente mensuráveis”…
“o tempo que estamos com um grupo é muito limitado”
A sessão da manhã terminou mas a ausência anunciada do projecto antimuseo , pela tarde, ofereceu-nos  “um prolongamento em exclusivo” de Hernandez.
“Não há nada mais prático que uma boa teoria” (Kurt Lewin)
Debate com Fernando Hernandez, comentado por Ana Leitão
Acreditem que raramente um debate flui tão espontaneamente e se auto-alimenta como este a que assisti à tarde, numa conversa que nascia de dentro, das experiências pessoais  dos intervenientes, e da postura sábia (gosto desta palavra e é tão raro poder usá-la!) deste mestre da escuta.
Tópicos, os mais diversos, a conversa, fantástica construção conjunta, sustentada por este “provocador de circunstâncias”:
- A escola entrou em força no debate, pela mão de Hernandez e de vários elementos da assembleia, que ponderaram o seu potencial transformador, tantas vezes manietado -“fugiu um anjo da escola, a imaginação pedagógica”-, a diferença na relação da comunidade (?) escolar com as obras de arte versus relação com os artistas vivos, as dificuldades sentidas por ou com professores…
- Os dualismos e generalizações associadas foram recusados: as escolas e museus propagam mais informação do que promovem a reflexão mas também existem situações de profunda construção partilhada de saber. Susana Gomes da Silva apontou aliás que em Portugal, existem muitas vezes 2 velocidades diferentes nos museus: por um lado o trabalho que é feito pela Instituição em si, e por outro, o de Serviços Educativos
- Sophia Neuphart reflectiu sobre o difícil equilíbrio , autêntica “ginástica”, entre a provocação de movimentos nas pessoas/comunidades e a escuta.
- Hernadez agarrou-me com exemplos da sua história de vida (como as narrativas de histórias de vida são importantes!): alunos universitários que escolheram como seu projecto de pesquisa com o Professor “ A experiência de silêncio na sala de aula”; alunos de ensino intermédio que escolheram dominantemente como tema de filmes de 3 minutos que iam construir, “Memórias dos avós”
- Interessantíssima foi a interpelação de outro elemento sobre a relação entre artistas e escolas correr o risco de reduzir os primeiros a narradores da sua obra, que suscitou também a ponderação de Hernandez de que também as crianças podem ser usadas pelos artistas, se estes apenas as utilizam como mão de obra para os trabalhos que eles projectam. A esse propósito distinguiu outras 3 situações:
- Artistas que fazem projectos seus para as crianças verem
- Artistas que fazem projectos pedidos pelas escolas
- Artistas que fazem projectos com as crianças
Isto pode passar-se perfeitamente nos museus, relativamente à postura que assumem com os públicos…
Para terminar, o que me “agarrou” neste debate:
A questão das narrativas:
Hernandez:
- “A arte é um conjunto de relatos”
- “Nós criamos a nossa identidade como narrativa”
- “Até a nossa percepção é interpretativa, não podemos percepcionar sem interpretar”
Professora  e mediadora:
- Narrativas, sim, mas existe também o mistério, o indizível…
Obrigada, Fernando Hernandez, obrigada todos!
 



Felisa Perez - Relato do Workshop de ontem (10h - Pequeno Auditório da Culturgest)

ENCONTRO – A ARTE DE ESTAR COM
por Sofia Neuparth e Graça Passos

Não faço ideia se as pessoas que andaram às voltas no palco da Culturgest esta manhã estavam a meditar nas encarnações de Shiva, nas histórias da criação do Ganesh ou no último avatar de Vishnu. Sei que, em meia dúzia de minutos, a configuração de uma sala mudou. Mudou porque mais de 100 pessoas foram capazes de sair da sua zona de conforto para parar, pensar, voltar a andar, calar e observar. E numa sintonia quase perfeita, em jeito de performance, lançaram os ingredientes para uma sopa "saudável" e "saborosa". Para quê? Para fazer tremer o palco? Para estabelecer o meio-caminho para qualquer coisa? Pelo desafio da mudança que a reflexão sobre o encontro possa motivar? Ou simplesmente pela “Arte de Estar Com”? Não sabemos porque o nosso corpo é como uma Pedra d’água, tão leve e tão pesado ao mesmo tempo que só através da libertação é possível transformá-lo. Fica o desafio lançado pela Sofia e pela Graça.

Por Felisa Perez