Palestra de John Falk - Imagined vs. Actual: Understanding the Museum Visitor Sessão de debate John Falk e Maria Vlachou
Onde começa a prática artística e termina a mediação cultural foi, a meu ver, uma das perguntas que mais inspiraram a conferência, e provavelmente representa um dos dilemas mais prementes com que se debatem os museus/centros de arte contemporânea (domínio em que se insere este relato e análise crítica).
O desafio trazido por John Falk foi um contributo ao conjunto de palestras que a conferência promoveu. Este autor concluiu, através da sua pesquisa, que é possível identificar diferentes tipos de identidades nos públicos que visitam os museus, motivados por uma espécie de agenda pessoal (1).
Falk debruça-se sobre o tema da identidade por considerar que as identidades se relacionam com certas necessidades (2) e que estas são a razão pela qual o público apresenta determinados comportamentos, de certa forma padronizados, face às visitas dentro dos museus. Segundo o autor, através do conhecimento destas identidades, os museus ficariam assim mais bem preparados para receber os públicos. A cada uma destas identidades mencionadas (3) corresponde um tipo de comportamento na entrada, no decurso (trajectória) que se escolhe dentro do museu e na saída. Para Falk importa entender o que as pessoas fazem dentro dos museus e o que levam de lá.
Por outro lado, estas identidades estão relacionadas com diferentes tipos de motivação (e diria eu, a diferentes tipos de escolha). As necessidades levam a tomar decisões e a fazer escolhas, mas se invertermos o sistema, as decisões e escolhas também podem levar a necessidades que julgamos não ter ou que simplesmente desconhecíamos.
Embora a tendência da audiência na palestra fosse mais no sentido de compreender as razões/motivos daqueles que não vão aos museus, Falk procurou, acima de tudo, apresentar informações sobre o tipo de pessoas que frequentam os museus. Neste ponto, poder-se-ia perguntar se falta ensinar a ida ao museu. O sintoma que está por detrás da ausência de públicos nos museus, não será comum a outras instituições ligadas, de alguma maneira, à arte e à cultura em geral?
Com o actual sentido alargado da arte, espera-se que, em particular, as instituições ligadas à arte contemporânea, contrariem a institucionalização, reinventando-se todos os dias; acomodando nas suas vivências relações de respeito e liberdade com os criadores, os profissionais e os públicos. Reformulando constantemente os discursos e as metodologias e adaptando-se às convulsões/transformações da própria sociedade. Ainda assim, foi assinalado na sessão de debate que é preciso aproximar o museu da realidade e quem sabe, alargar os públicos; desde que os museus não esqueçam o sentido da experiência fenomenológica da relação dos objectos com o espectador; não subestimem o público, não deixem cair o efeito de descoberta nos visitantes ou pôr em causa as escolhas livres dentro do museu.
O desafio trazido por John Falk foi um contributo ao conjunto de palestras que a conferência promoveu. Este autor concluiu, através da sua pesquisa, que é possível identificar diferentes tipos de identidades nos públicos que visitam os museus, motivados por uma espécie de agenda pessoal (1).
Falk debruça-se sobre o tema da identidade por considerar que as identidades se relacionam com certas necessidades (2) e que estas são a razão pela qual o público apresenta determinados comportamentos, de certa forma padronizados, face às visitas dentro dos museus. Segundo o autor, através do conhecimento destas identidades, os museus ficariam assim mais bem preparados para receber os públicos. A cada uma destas identidades mencionadas (3) corresponde um tipo de comportamento na entrada, no decurso (trajectória) que se escolhe dentro do museu e na saída. Para Falk importa entender o que as pessoas fazem dentro dos museus e o que levam de lá.
Por outro lado, estas identidades estão relacionadas com diferentes tipos de motivação (e diria eu, a diferentes tipos de escolha). As necessidades levam a tomar decisões e a fazer escolhas, mas se invertermos o sistema, as decisões e escolhas também podem levar a necessidades que julgamos não ter ou que simplesmente desconhecíamos.
Embora a tendência da audiência na palestra fosse mais no sentido de compreender as razões/motivos daqueles que não vão aos museus, Falk procurou, acima de tudo, apresentar informações sobre o tipo de pessoas que frequentam os museus. Neste ponto, poder-se-ia perguntar se falta ensinar a ida ao museu. O sintoma que está por detrás da ausência de públicos nos museus, não será comum a outras instituições ligadas, de alguma maneira, à arte e à cultura em geral?
Com o actual sentido alargado da arte, espera-se que, em particular, as instituições ligadas à arte contemporânea, contrariem a institucionalização, reinventando-se todos os dias; acomodando nas suas vivências relações de respeito e liberdade com os criadores, os profissionais e os públicos. Reformulando constantemente os discursos e as metodologias e adaptando-se às convulsões/transformações da própria sociedade. Ainda assim, foi assinalado na sessão de debate que é preciso aproximar o museu da realidade e quem sabe, alargar os públicos; desde que os museus não esqueçam o sentido da experiência fenomenológica da relação dos objectos com o espectador; não subestimem o público, não deixem cair o efeito de descoberta nos visitantes ou pôr em causa as escolhas livres dentro do museu.
(1) Falk refere que a pessoa chega ao museu com uma agenda pessoal - uma série de expectativas que interferem/ determinam a própria visita e que correspondem a motivações.
(2) Identity-Related Visit Motivations
(3) Segundo Falk, explorers, facilitators, professional/hobbyist, experience seekers, spiritual pilgrims
Para uns, o museu será um farol, para outros será um abrigo, satisfazendo diferentes necessidades. O museu alberga obras multifacetadas e os visitantes são únicos e surgem com estados de alma muito diferentes. Cada pessoa pode experimentar diversos papéis ao visitar um museu, isto é, uma vez ser um explorer e outra vez ser um facilitator. Falk diz-nos ainda que os visitantes trazem motivações relacionadas com as suas identidades e com a tal agenda pessoal. Acrescentando que se as pessoas não vão aos museus, é porque não compreendem que estes espaços podem satisfazer as suas necessidades pessoais. Seria interessante discutir-se um pouco mais de que necessidades se trata. Estamos a referirmo-nos a questões de realização pessoal? Compreender como as pessoas tomam conhecimento de si mesmas ao ponto de terem consciência de todas as suas necessidades não é tarefa fácil. Importa mencionar que Falk teve o cuidado de sublinhar que este conjunto de identidades (características), não nos diz obviamente tudo em relação aos visitantes. Falk refere que a identidade é multidimensional e que o museu é um espaço complexo e dinâmico.
Por outro lado, esta questão levantada por Falk fez-me pensar em que medida projectamos a nossa identidade na ida ao museu. Como se estes espaços representassem uma espécie de palco para a narrativa pessoal. Para além das afinidades com a programação e/ou pluralidade das propostas, factores sócio-económicos, educacionais e outros, na origem da escolha do museu podem estar questões de identificação e semelhança. O processo de construção e reconstrução de identificações faz com que o indivíduo defina o seu lugar na sociedade. São os museus capazes de lidar com estas questões?
Falk determina que estes estudos representam um conjunto de informações que podem funcionar como ferramentas para um melhor desempenho das instituições. Acrescentando que podem servir de reflexão no sentido de inverter ou reformular algumas dinâmicas actuais dos museus. Na minha opinião, seria importante que se olhasse para estas ferramentas essencialmente com fins criativos e não lucrativos. Os estudos significam sempre contributos, pois ao conhecer-se a realidade com que se está a lidar, fica-se mais preparado para decidir e antecipar para onde se quer ir e o que se quer fazer, neste caso, com o museu.
Por outro lado, se os museus estão empenhados em comunicar, e se comunicar é tornar comum, então é na partilha que deve assentar a dinâmica dos museus. Ocorre-me entretanto lembrar José Régio
(...)
Não sei por onde vou, Não sei por onde vou
- Sei que não vou por aí!
Para que as pessoas valorizem a arte é necessário levar as pessoas a uma vivência da própria arte, e esta deverá ser a fórmula a usar no museu, permitindo assim uma maior compreensão dos seus objectivos. O que deve preocupar os museus (e em particular os serviços educativos) é a capacidade de tornar estas instituições, lugares inclusivos. Um museu que encare a diversidade como uma oportunidade, no sentido de despertar consciências e combater qualquer forma de estigma. Os projectos de responsabilidade social podem ser fortes aliados para se construir um verdadeiro sentido de comunidade.
O museu muitas vezes não chega a perceber os efeitos da sua intervenção. É pertinente a noção trazida por Falk do impacto da experiência a longo prazo nos aspectos da própria memória; importante pista para o entendimento da visita, da relação do museu com o visitante e para os aspectos da aprendizagem.
Por último, não devemos esquecer que as acções humanas são afectadas por forças externas, isto é, pelo contexto, situação ou estímulo exterior. Caminhar em conjunto, museu e público (e nunca separadamente) como terá dito Stela Barbieri, deverá ser uma das conclusões desta conferência. Neste sentido, saber quem é o outro, conhecer o outro pode ser um acto inclusivo. Ao procurarmos entender quem visita o museu, abrimos caminho para uma eventual compreensão dos que ficam de fora e com isto criamos condições para os trazer, incluir ou integrar.
Por outro lado, esta questão levantada por Falk fez-me pensar em que medida projectamos a nossa identidade na ida ao museu. Como se estes espaços representassem uma espécie de palco para a narrativa pessoal. Para além das afinidades com a programação e/ou pluralidade das propostas, factores sócio-económicos, educacionais e outros, na origem da escolha do museu podem estar questões de identificação e semelhança. O processo de construção e reconstrução de identificações faz com que o indivíduo defina o seu lugar na sociedade. São os museus capazes de lidar com estas questões?
Falk determina que estes estudos representam um conjunto de informações que podem funcionar como ferramentas para um melhor desempenho das instituições. Acrescentando que podem servir de reflexão no sentido de inverter ou reformular algumas dinâmicas actuais dos museus. Na minha opinião, seria importante que se olhasse para estas ferramentas essencialmente com fins criativos e não lucrativos. Os estudos significam sempre contributos, pois ao conhecer-se a realidade com que se está a lidar, fica-se mais preparado para decidir e antecipar para onde se quer ir e o que se quer fazer, neste caso, com o museu.
Por outro lado, se os museus estão empenhados em comunicar, e se comunicar é tornar comum, então é na partilha que deve assentar a dinâmica dos museus. Ocorre-me entretanto lembrar José Régio
(...)
Não sei por onde vou, Não sei por onde vou
- Sei que não vou por aí!
Para que as pessoas valorizem a arte é necessário levar as pessoas a uma vivência da própria arte, e esta deverá ser a fórmula a usar no museu, permitindo assim uma maior compreensão dos seus objectivos. O que deve preocupar os museus (e em particular os serviços educativos) é a capacidade de tornar estas instituições, lugares inclusivos. Um museu que encare a diversidade como uma oportunidade, no sentido de despertar consciências e combater qualquer forma de estigma. Os projectos de responsabilidade social podem ser fortes aliados para se construir um verdadeiro sentido de comunidade.
O museu muitas vezes não chega a perceber os efeitos da sua intervenção. É pertinente a noção trazida por Falk do impacto da experiência a longo prazo nos aspectos da própria memória; importante pista para o entendimento da visita, da relação do museu com o visitante e para os aspectos da aprendizagem.
Por último, não devemos esquecer que as acções humanas são afectadas por forças externas, isto é, pelo contexto, situação ou estímulo exterior. Caminhar em conjunto, museu e público (e nunca separadamente) como terá dito Stela Barbieri, deverá ser uma das conclusões desta conferência. Neste sentido, saber quem é o outro, conhecer o outro pode ser um acto inclusivo. Ao procurarmos entender quem visita o museu, abrimos caminho para uma eventual compreensão dos que ficam de fora e com isto criamos condições para os trazer, incluir ou integrar.
Fórmula final: Com a Cultura e com o gesto fazemos uma casa do mundo!
Agradeço à Raquel Santos Arada o convite para este desafio e à equipa do serviço educativo pela dedicação em tudo o que fazem.
Agradeço à Culturgest e aos oradores que me fizeram reflectir sobre estes assuntos.
Por Raquel Pedro