sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"A audiência morreu, em vez disso falemos de participantes."



O público é central para a grande parte do que um museu faz, os inquéritos aos visitantes e a segmentação do público ao longo dos últimos dez anos ajudou a melhorar a nossa compreensão sobre as pessoas que atravessam as nossas portas.
Em termos de audiência, sendo esta a receptora de uma actuação ou de um serviço, “audiência” não parece a melhor forma para nós descrevermos o consumidor de museu moderno. Estas são pessoas que vivem vidas cada vez mais digitalizadas, onde não são espectadores mas sim participantes activos, positivamente envolvidos através de programas e projectos de divulgação.
Embora seja improvável que o uso da palavra “audiências” mude, penso que é útil para nós pensar nas pessoas que escolhem interagir com os museus através de um meio digital ou fazendo uma visita como “participantes”.
Independentemente do facto de você estar a planear uma nova exposição, um site ou plano de marketing, se pensar em como pode envolver os “participantes” do seu museu em vez de “audiências”, seguramente que isto lhe trará um estado de espírito diferente.

Marketing para participantes
Em Fevereiro de 2011, um grupo de museus e galerias em Yorkshire, Inglaterra lançou uma campanha de marketing para promover a exposição de colecções de arte em 35 locais de todo o seu condado.
A campanha optou por não promover o quanto as obras de arte presentes nestes museus e galerias são incríveis mas antes pediu ao púbico para participar da campanha através da partilha de histórias sobre a sua pintura favorita.
A campanha de Pintura Favorita de Yorkshire ofereceu um prémio exclusivo, a possibilidade de ganhar uma réplica da pintura favorita, e em seis semanas, mais de 400 pessoas aproveitaram a oportunidade para participar na competição.
As histórias sobre o porquê de as pessoas adorarem estas pinturas foram variadas, desde um relato comovente de uma mãe que perdeu o seu filho no conflito no Afeganistão e que se recordava dele ao ver uma pintura de Lowry, à história de um menino de seis anos de idade que “adorou as senhoras bonitas “numa pintura de sereias ou uma senhora que queria ganhar uma réplica de uma obra de arte do seu pai, um famoso artista.
Enquanto 400 pessoas escreveram histórias, muitas outras participaram de diferentes maneiras, partilhando histórias através dos média sociais, deixando comentários e votando em histórias.
O site atraiu dezenas de milhares de hits mas os efeitos da campanha repercutiram-se ainda mais quando os participantes online se tornaram em visitantes do mundo real.

Sites para participantes
Enquanto os museus estão a criar oportunidades para o público participar online com o uso do Facebook e Twitter, a maioria dos sites de museus ainda não incorporou este tipo de interacção nos seus próprios sites.
O Teylers Museum é o primeiro e o mais antigo museu da Holanda e é um desses museus. O seu site oferece ao público todas as informações úteis que ele possa necessitar antes da visita, no entanto não parece dar ao público a oportunidade de participar de uma forma significativa. Porém, o Museu Teylers possui outro site, que foi construído com a utilização do NING, uma ferramenta de rede social que quebra fronteiras e dá vida ao museu de uma forma que o seu site principal não consegue.
O site convida qualquer pessoa a participar e a juntar-se a esta “mini-rede” social de curadores, colaboradores e amigos do museu.
Herman Voogd do Teylers Museum explica: “Nós começámos a usar o NING para oferecer a todos os fãs do Teylers e aos nossos funcionários, a possibilidade de deixar imagens e mensagens acerca do museu.
“Nós gostamos da ideia de ter quer um site de museu tradicional quer um outro que seja mais aberto. Um blogue, um álbum de fotos, onde cada membro da equipa tem mais liberdade. No nosso site NING não importa se a imagem é pouco nítida ou se o filme é amador.
“A regra não é perder muito tempo mas sim partilhar uma grande quantidade de conhecimentos sobre o museu ou sobre as colecções.”
Usar o NING como plataforma dá ao público a oportunidade de participar não só através de comentários ao conteúdo adicionado no site pelo museu mas também através da possibilidade de iniciar os seus próprios tópicos e partilhar a sua perspectiva sobre o museu.
Em última análise, vejo todos os sites de museu darem ao seu público a possibilidade de participar desta forma. Esta abordagem consome mais tempo e esforço do que a de um site tradicional, e muitos podem preocupar-se com os recursos que tal comunidade online exigiria. Porém, se um museu não tem tempo para participar de conversações com os seus públicos (mesmo online), então penso que deveria reavaliar as suas prioridades.

Exposições para participantes
Outra forma de envolver as nossas audiências como participantes é através da co-produção de exposições. Acho que esta é uma oportunidade empolgante que estamos apenas a começar a ver os museus a explorar.
Este tipo de co-produção ou co-criação pode assumir muitas formas; pode ser uma exposição de história moldada pelas contribuições de pessoas que viveram o evento, uma exposição de arte crowdsourced criada com o público ou através de um pedido para escrever novas etiquetas para pinturas.
Um exemplo recente vem do CCCB em Barcelona, onde uma exposição de fotografia do fotógrafo espanhol do século XX Josep Brangulí está a ser seguida em parceria, por um projecto muito ao século XXI.
Fotógrafos contemporâneos foram convidados a responder aos temas da exposição (e ao trabalho de Josep Brangulí) através de um convite aberto que obteve um tremendo impacto na crescente comunidade Flickr de Barcelona e atraiu mais de 2.000 entradas num mês.
Uma imagem reflectindo cada um dos temas da exposição será exibida juntamente com o trabalho de Josep Brangulí, enquanto todas as submissões serão exibidas através de uma projecção.
Não se trata de usar os média sociais por ser uma tendência mas sim usar a tecnologia para melhorar uma exposição através da participação pública. Ao agir assim, o CCCB também está a fazer com que os indivíduos que investem o seu tempo para se envolver, pensem mais profundamente sobre os temas da exposição e a evolução do mundo capturada nas imagens de Brangulí e nas imagens contemporâneas.
Este tipo de participação reconhece que o público tem uma voz válida dentro do museu e que essas pessoas têm algo para contribuir.

Em Conclusão
O que estas formas de participação têm em comum é que reconhecem que o público tem uma voz activa dentro do museu e que essas pessoas têm algo a contribuir, muitas vezes tornando a exposição mais interessante do que alguma vez seria sem a sua participação.
Talvez seja ingénuo pensar que a maior competência está dentro do museu.
O nosso público não se trata de espectadores passivos. Estes esperam cada vez mais que os museus lhes ofereçam experiências participativas e isso deve ser reflectido pela forma como o museu moderno se aproxima deles.
Não pensa nas pessoas que entram pela sua porta adentro ou que interagem consigo como público, pense antes no que você pode fazer pelos seus participantes.

Jim Richardson, MuseumNext

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